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Tem um ditado irlandês: "É melhor ter sorte do que ser rico".
Eu adoro este ditado. Eu prefiro ter sorte.
Uma vez um colega disse, desdenhando de um boa sorte que falei pra ele,
que sorte é para incompetentes. Que seja. Vou optar pela sorte.
Agradeço todos os dias pelas coisas boas que me aconteceram,
que não têm explicação científica nenhuma.
Alguns chamam isso de Deus.
Me lembro até hoje do Caio. Ele ganhava um presente toda vez que tirava uma nota boa.
Ele ganhava um presente realmente caro sempre que passava de ano. Todo ano.
Toda vez que eu tirava nota boa minha mãe falava: "Não fez mais que a obrigação".
Passava de ano tranquilamente e ouvia: Não fez mais que a obrigação.
Era o melhor da turma e “ não fez mais que a obrigação”
Eu ouvi falar esses dias que o Caio destruiu o carro dele novinho, dirigindo bêbado.
Me fez pensar na influência negativa de pais que nunca dizem não para os seus filhos.
Mas pensei também na influência de bons pais. Será que a gente vai ter sorte?
Pais atenciosos, estes que passam horas estudando com os filhos, que conversam, que dizem não. Esses pais podem, por alguma razão inexplicável, ter filhos malsucedidos.
Ter filhos que fazem coisas erradas.
Imaginem que tristeza é, para um pai dedicado, não ver seu filho brilhar.
Que mundo injusto é este em que nós, seres humanos, somos tão imprevisíveis.
Se nossos filhos serão brilhantes, não sabemos.
Aproveitamos cada momento torcendo pra que sim.
Talvez, se tivermos sorte. Se tivermos sorte. Serão decentes,
bem-sucedidos, ajudarão outras pessoas, vão mudar o mundo.
Se tivermos sorte. Serão bondosos, reconhecidos, sorridentes e educados.
Se tivermos sorte. Terá valido a pena as noites em claro,
às vezes que não pensamos no trabalho, as tardes de estudos, a dedicação, as conversas, a abnegação. Teremos feito tudo isso e talvez dê certo, talvez não.
Se der certo, seremos os pais mais felizes do mundo.
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E não teremos feito mais que a nossa obrigação.
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( Marcos Piangers )
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