Jardins de Sephora

26 março 2012

Paternidade e Maternidade Conscientes

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   Muitos filhos guardam raiva ou ressentimento dos pais. A causa disso costuma ser a falta de autenticidade do relacionamento. O filho tem um profundo desejo de que o pai e a mãe estejam presentes como seres humanos, e não como papéis, não importa com que grau de consciência essa interpretação esteja sendo feita. Podemos estar realizando tudo o que é certo e da melhor forma possível para nosso filho – ainda assim, fazer o melhor não é o bastante. Na verdade, fazer nunca é o suficiente se negligenciamos o Ser. O ego não sabe nada do Ser, porém acredita que acabaremos sendo salvos porque “fazemos”. Quando estamos sob  seu domínio, acreditamos que, realizando mais e mais, vamos acabar acumulando “feitos” suficientes para nos sentir completos em determinado momento futuro. Não, não vamos. Tudo o que conseguiremos com toda essa ação será nos perder de nós mesmos. A civilização inteira está desorientada por fazer aquilo que, por não ter raízes no Ser, se torna inútil.
   Como levamos o ser para a vida de uma família atarefada, para o relacionamento com nossos filhos? A chave é lhe dar atenção. Existem dois tipos de atenção. Um deles podemos chamar de atenção baseada na forma. O outro é a tenção sem forma. A atenção baseada na forma está sempre vinculada de alguma maneira a fazer ou avaliar. “Já fez sua lição de casa? Coma tudo. Arrume seu quarto. Escove os dentes. Faça isso. Pare de fazer aquilo. Vamos logo, apronte-se.”
   Qual é a próxima tarefa? Essa pergunta resume muito bem aquilo com que a vida familiar se parece num grande número de lares. A atenção baseada na forma é necessária e tem seu lugar. Porém, se ela for tudo o que existe no relacionamento com os filhos, é porque a dimensão essencial está faltando e o Ser se torna completamente obscurecido pelo fazer, pelas preocupações. Como ela funciona?
   Enquanto observamos, escutamos, tocamos ou ajudamos nossos filhos, permanecemos atentos, calmos, inteiramente presentes - tudo o que queremos é aquele instante como ele é. Dessa maneira, damos lugar ao Ser. Nesse momento, se estamos presentes, não somos o pai nem a mãe, e sim a atenção, a calma, a presença que está escutando, olhando, tocando e até mesmo falando. Somos o Ser por trás do fazer.
   O anseio por amor que existe em toda criança é o anseio por ser reconhecida não no nível da forma, mas no plano do Ser. Quando os pais distinguem apenas a dimensão humana das crianças e negligenciam o Ser, elas sentem que o relacionamento é insatisfatório, que algo essencial está faltando. Assim, poderão acumular dor e, algumas vezes, até um ressentimento inconsciente em relação aos pais. “Por que vocês não me reconhecem?” Isso é o que a dor e o ressentimento parecem dizer.
   Sempre que alguém nos reconhece, isso traz a dimensão do ser mais plenamente para o mundo por meio de nós dois. Esse é o amor que redime o mundo. Falo sobre isso de modo mais específico no que se refere aos filhos, porém essa é uma questão que se aplica a todos os relacionamentos.
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                                                                    ( Eckhart Tolle )
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