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Conta a lenda que Cronos se viu atraído fortemente pela bela Filira e, para tê-la, precisou se transformar em um cavalo para fugir da desconfiança de sua mulher, a deusa Réia. Da união desse amor proibido nasceu um menino, metade homem, metade cavalo.
Inconformada em ter gerado um Centauro, a mãe rejeitou o filho, pedindo aos deuses que a transformassem em uma árvore. Os deuses, sensibilizados com o pedido, escolheram transformá-la em uma Tília ( para os germânicos, eram árvores sagradas com poderes mágicos que protegiam os guerreiros)
Quando Cronos soube, preocupado com os lenhadores, resolveu protege-la fazendo com que ela exalasse para todo sempre um agradável e inebriante perfume durante a primavera. Os Centauros costumavam ser violentos, por isso Cronos, que amava o filho, decidiu mudar esse destino dando-lhe suas virtudes de deus do tempo. Quiron herdou do pai a sabedoria, os conhecimentos de magia, astronomia e o dom de prever o futuro.
Além disso, era conhecedor das artes e da música. O menino foi entregue ao Deus Apolo e à deusa Artêmis para ser educado e, por sua sabedoria, virtudes e grande espiritualidade, foi eleito como rei dos centauros, recebendo a missão de educar os jovens para o respeito às leis divinas.
Certa vez, quando seu amigo Hércules matou o monstro Hidra de Lerna com cabeças envenenadas, acidentalmente o feriu na coxa com uma das flechas saturadas de sangue do monstro. Quiron, embora imortal, não conseguia curar a si mesmo, ficando condenado a viver em sofrimento. Ferido e com um ponto sensível que doía ao ser tocado, reconheceu que possuía uma vulnerabilidade.
Os ferimentos de Quiron o transformaram no curandeiro ferido, aquele que, por meio de sua própria dor, é capaz de compreender a dor dos outros. Quiron representa a parte ferida de cada um, simbolizada por alguma deficiência, limitação ou problema, que o torna benevolente em relação aos que o cercam, pois entende-lhes o sofrimento com compaixão.
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"Embora o centauro seja uma criatura fantástica, o mito de Quirom. é, na verdade, um mito da humanidade ... Todos podemos sofrer dores injustas, físicas ou emocionais, e, uma vez feridos dessa maneira, nunca podemos nos curar realmente, porque nossa inocência jamais será recuperada.
Cabe a nós escolhermos o caminho cicatrizante da compaixão e da aceitação das limitações mortais,
em vez da corrupção persistente
do ressentimento íntimo contra a vida."
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(Liz Greene & Juliet Sharman-Burke - Uma Viagem através dos Mitos)
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