Jardins de Sephora

21 julho 2013

Diálogos Impossíveis

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Algumas pessoas provocam o outro até ouvir algo
insuportável; nessas conversas traiçoeiras, discursos
repetitivos reforçam ciclos de ressentimento


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-   Eu te ligo.
-   Mas eu vou ficar tão nervosa esperando você ligar que eu preferia que você não ligasse.
-   Tá bom, eu não te ligo.
-   Legal! Assim eu não preciso ficar desesperada, pensando que eu podia ligar para você enquanto você não liga para mim. Nem imaginar por que você ainda não ligou. Mas... Você vai ligar, não é?
-    Eu te ligo.

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       Esta adaptação de "diálogo impossível" poderia ter vindo do livro homônimo de Luis Fernando Veríssimo (Objetiva, 2012). Um trabalho que parece retomar as pesquisas, dos anos 70, feitas pelo antropólogo Gregory Bateson e da Escola de Paio Alto, sobre a comunicação paradoxal. O chefe que diz uma coisa e faz outra contrária, o pai que "mostra" seu amor ao filho repetindo reclamações e críticas, o discurso liberal com a prática autoritária, são exemplos de situações discursivas patológica.
      Duplicidades entre mensagens e códigos, dissonância entre o que pensamos e o que dizemos, disparidades entre a forma como "representamos" ações e a maneira real" como nos comportamos, têm aparecido nas pesquisas do psicólogo Daniel  Kahneman, ganhador do Nobel de Economia em 2002, e em uma vasta gama de investigações sobre a filosofia moral "prática".

      De todos os diálogos impossíveis, o meu favorito ao "prêmio" de alienação discursiva é, sem dúvida, a conversa entre casais. A temida DR (discussão de relacionamento) é um caso particular do que Freud chamava de "a mais generalizada degradação do objeto na vida amorosa", ou seja, um dos signos clínicos típicos e inevitáveis da desagregação da retórica amorosa. Como a piada que nos lembra que os Beatles

falavam de amor e não duraram mais que dez anos juntos, os Rolling Stones, que louvam o gozo, estão até hoje cantando Satisfaction.

      Também entre amigos as chamadas "mesmas conversas" são fonte de gradual irritação, mas isso não contraria a regra, pois a amizade é uma forma de amor. O grande enigma é saber por que, mesmo sabendo que se dissermos A ouviremos B, não conseguimos resistir à força impelente do discurso que nos degrada, arrastando o outro junto. O caso típico é o daquela pessoa que não consegue se conter até ouvir aquilo que lhe é insuportavelmente repetitivo. Ela dá voltas, provoca e parece forçar o outro a perder a paciência e dizer o que sempre diz, machucando e reforçando o ressentimento que a conversa inicialmente tinha o objetivo de reparar.
      Há, nesses diálogos, aquele acento traiçoeiro que nos faz ter a certeza delirante de que só com um "pouquinho" (o diminutivo é aqui essencial) mais de tempo, dinheiro ou compreensão tudo estaria resolvido. Devia haver um "Discursivos Anônimos" para nos lembrar que nessa matéria é preciso evitar sobretudo a "primeira palavra". E reunião sistemática para recordarmos que estamos há tantos dias sem pronunciá-la. Em uma época na qual se insiste tanto na importância da criatividade e da inovação, pouco ou quase nada se ouve sobre a RENOVAÇÃO do DISCURSO. Não há nenhum personal trainer para a PALAVRA, não conheço receita, manual, regime ou educação dirigida que seja eficiente neste assunto (não confundir com oratória, sedução e coisas do gênero). A cura para isso anda escassa. É na poesia que aprendemos o trabalho de dizer com cuidado e escutar com precisão. Mas quem defenderá a utilidade da poesia como gênero de primeira necessidade da vida relacional?

Na verdade, as tentativas de disciplinar de modo "auto- consciente" nosso discurso têm resultados muito parciais - quando não desastrosos. Portanto, seria melhor que aprendêsse¬mos a respeitar o adversário que parece tão fácil de ser derrotado: A PALAVRA. E a palavra de amor, que com amor se faz.

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     CHRISTIAN INGO LENZ DUNKER, psicanalista, professor livre- docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
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14 julho 2013

Te amo

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Te amo
Te amo de uma maneira inexplicável.
De uma forma inconfessável.
De um modo contraditório.

Te amo
com meus estados de ânimo que são muitos
e que mudam de humor continuamente.
Como você  já sabe.

Te amo
com o mundo que não entendo,
com as pessoas que não compreendo,
com a ambivalência de minha alma,
com a incoerência de meus atos,
com a fatalidade do destino,
com a conspiração do desejo,
com a ambiguidade dos fatos.
Ainda quando te digo que não te amo, te amo.
Até quando te engano, não te engano.
No fundo, levo a cabo um plano,
para amar-te... melhor.

Te amo
Sem reflectir, inconscientemente,
espontaneamente,
involuntariamente,
por instinto,
por impulso,
irracionalmente.
Não tenho, argumentos lógicos,
nem sequer improvisados
para fundamentar este amor que sinto por ti,
que surgiu misteriosamente do nada,
que não tem resolvido magicamente nada,
e que milagrosamente, de pouco, com pouco ou nada
tem melhorado o pior de mim.

Te amo
com um corpo  que não pensa.
Incompreensivelmente.
Sem perguntar-me, porque te amo.
Sem importar-me porque te amo.
Sem questionar-me porque te amo.

Te amo
simplesmente porque te amo.
Eu mesmo não sei porque te amo.
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( Adaptação do poema Te Amo de Gian Franco Pagliaro ) 
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Si te digo que te amo

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Si te digo que te amo
Imagino que tus besos
Toman la forma de un rio
Emborrachando mis labios.
Deriva el rio en un lago
Inunda el lago de mi alma
Galopa luego en mis venas
Ondula por mis entrañas.
Que te digan que te amo
Una nube y una estrella,
El cielo, el mar e la tierra.
Todos ellos que no callen,
Ellos, si, que te repitan.
Amor mio, alma vida...
Mientras tu boca derrama
Oro y sol sobre la mia...
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( Desconheço o autor )
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10 julho 2013

Entrevista com Annie Marquier - O Desafio

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Annie Marquier es francesa, aunque reside en Québec, Canadá. Allí dirige desde hace 30 años el Instituto para el Desarrollo de la Persona, donde ayuda a las personas a elevar su grado de conciencia o, dicho de otro modo, a encontrarse a sí mismas.La autora de El poder de elegir, La libertad de ser o el Maestro del Corazón. Una pionera en el mundo de la conciencia. La primera que acuñó la palabra victimitis. Experta en psicología holística y transpersonal. Sólo un par de años atrás ni me hubiera podido imaginar la posibilidad de entrevistarla, y ahora, es una realidad. La lectura de El poder de elegir fue un punto de inflexión en mi vida, y el motivo de mi viaje a Canadá para conocerla. Desde entonces puedo decir que es mi Maestra de referencia, en la distancia; y sus libros, un faro con el que guiarme a través de la inmensidad de la vida. Rigor, disciplina, experimentación, dulzura, inteligencia, arte, conciencia... son palabras que la definen.
( web Instituto:idp.qc.ca/html/el_instituto.html
 Alish
 TimeForTruth.es )
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08 julho 2013

Ordem e Amor

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Muita gente supõe que se nós amarmos bastante, o amor triunfará e tudo se transformará em bem. A experiência demonstra que isto não é verdade.
Tais experiências mostram que, para além do amor, é necessário algo mais para que o amor seja bem sucedido. O que o amor requer é que nós compreendamos e sigamos as escondidas Ordens do Amor.
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ORDEM E AMOR
O Amor completa-se com o conteúdo das Ordens.
O Amor é água, as Ordens são o seu jarro.
As Ordens são a terra arrendada,
Permitindo que o Amor flua.
Ordem e Amor cooperam:
Tal como a melodia e suas harmonias,
Assim é o Amor com as suas Ordens.
Tal como nossos ouvidos são arranhados pela dissonância,
Mesmo quando explicada,
Também a nossa alma adapta-se com dificuldade
Ao Amor sem ordem.
Alguns tratam as Ordens como se elas
Fossem opiniões que possamos
Ter ou mudar à vontade.
Mas elas são como são.
Trabalham, mesmo quando não as compreendemos.
Nós não as criamos, descobrimo-las.
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Muitas destas ordens estão escondidas e nós não podemos observá-las diretamente. Trabalham profundamente na alma, e tendemos a obscurecê-las com as nossas crenças, objeções, desejos ou ansiedades. Necessitamos de entrar profundamente na alma se quisermos tocar as Ordens do Amor.
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ACEITAR A VIDA COMO ELA É
Gostaria de começar dizendo algo sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos, partindo da perspectiva do filho. Estas observações são tão fundamentais e óbvias que eu hesito completamente em mencioná-las, mas não obstante elas são frequentemente esquecidas.
Quando os pais dão à vida, agem de acordo com o mais profundo da sua humanidade, e dão-se enquanto pais aos seus filhos exatamente como são. Não podem adicionar qualquer coisa ao que são, nem podem deixar qualquer coisa de fora. Pai e mãe, consumando o seu amor um pelo outro, dão aos seus filhos tudo o que são. Assim, a primeira das Ordens do Amor é que os filhos tomam a vida como ela lhes é dada. Uma criança não pode deixar qualquer coisa de fora da vida que lhe é dada, nem o desejo de que ela seja diferente vai mudar alguma coisa.
Uma criança É dos seus pais. O Amor se for para ter sucesso, requer que um filho aceite os pais tal como são, sem medo e sem imaginar que poderia ter pais diferentes. Afinal de contas, pais diferentes teriam filhos diferentes. Nossos pais são os únicos possíveis para nós. Imaginar que qualquer outra coisa seja possível é uma ilusão.
Aceitar nossos pais tal como são é um movimento muito profundo. Implica o nosso acordo com a vida e o destino, exatamente como nos são apresentados pelos nossos pais; com as limitações que são inerentes a isso. Com as oportunidades que damos a nós próprios. Com o enredo no sofrimento, má sorte e culpa da nossa família, ou sua felicidade e boa sorte, tal como pode acontecer.
Esta afirmação de nossos pais tal como é um ato religioso. Expressa a nossa prontidão a dar falsas expectativas, que excedem ou caem de acordo com a vida que os nossos pais nos deram realmente. Esta afirmação religiosa estende-se para além dos nossos pais, e assim, ao aceitar os nossos pais, devemos olhar para além deles. Devemos ver para além deles à distância, de onde a própria vida vem, e devemos curvarmo-nos perante o mistério da vida. Quando aceitamos os nossos pais tal como são, reconhecemos o mistério da vida e submetemo-nos a ele.
Você pode testar o efeito desta aceitação na sua alma imaginando-se profundamente curvado perante os seus pais e dizendo lhes, "a vida que vocês me deram veio para mim ao preço total que vos custou, e o preço total foi o que custou. Eu aceito-a com tudo o que vem com ela, com todas as suas limitações e oportunidades." No momento em que estas frases são sinceramente ditas, nós reconhecemos a vida como ela é e nossos pais como são. O coração abre-se. Quem quer que controle esta afirmação sente-se pleno e em paz.
Compare o efeito desta afirmação com o seu oposto, imaginando-se a afastar-se de seus pais, dizendo, "eu quero pais diferentes. Não gosto de como os meus são." Que ilusão, como se fosse possível sermos nós próprios e ter pais diferentes. Aqueles que falam em segredo estas frases afastam-se da vida como ela é, e sentem-se vazios, sem apoio, e não encontram paz com eles próprios.
Algumas pessoas temem que se aceitarem os seus pais tal como são, devem também aceitar o lado mau deles, e agem como se pudessem escolher somente a parte da vida que preferem. Temendo aceitar a totalidade da vida, também se perde o que é bom. Aceitando os nossos pais como são, aceitamos também a plenitude da vida, tal como ela é.
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UNICIDADE
Há, entretanto, um outro mistério envolvido. Nomeadamente, aquilo que nós experimentamos é único, que cada um de nós tem algo pessoal que não pode ser duplicado e que é diferente do que têm os nossos pais. E isto também deve ser afirmado, seja fácil ou difícil, bom ou mau. Se olharmos claramente para o mundo e para as nossas próprias vidas, vemos então que tudo o que é e que tudo o que fazemos, pertence a um todo maior.
O que quer que façamos ou que recusemos fazer, para o que trabalhamos e ao que nos opomos, fazemos porque nós servimos a um todo maior ao qual não compreendemos. Se nos tornarmos íntimos deste todo maior, então experimentamos este serviço como uma tarefa ou uma chamada que não adiciona nada às nossas realizações pessoais se for bom, nem à nossa culpa pessoal se for terrível. Simplesmente somos chamados para servir. Quando olhamos para o mundo desta maneira, as distinções habituais tornam-se irrelevantes. Eu chamo a isto, O Mesmo.
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O MESMO
A brisa move-se suave e sussurrante,
a tempestade explode e ruge.
Ainda é o mesmo vento,
a mesma canção.
A mesma água
Banha-nos e afoga-nos,
Carrega-nos e enterra-nos.
O que quer que esteja vivo, usam-se,
preservam-se e destroem-se,
uns aos outros,
dirigidos pela mesma força.
Isto é que interessa.
Quem é servido pelas diferenças?
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Estas são então as condições de vida fundamentais. É uma dádiva termos pais e sermos crianças. E também, que temos algo unicamente pessoal.

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ANALISANDO O QUE OS PAIS DÃO ADICIONALMENTE
Além de nos darem a vida, os nossos pais dão-nos também outras coisas. Alimentam-nos, animam-nos, cuidam de nós, e muito mais. Isto funciona bem quando a criança aceita o que lhe é dado, tal como lhe é dado. Regra geral, as crianças só aceitam o que necessitam, do que lhes é oferecido. Naturalmente há as exceções que nós todos compreendemos, mas regra geral, o que os pais dão aos seus filhos é o suficiente. Os filhos não podem ter tudo o que querem e nem todos os sonhos são realizados, mas normalmente, os filhos recebem bastante.
É consistente com as ordens do amor quando os filhos dizem aos seus pais, "vocês deram-me bastante, e é suficiente. Eu aceito isso de vós com apreciação e amor." Um filho que sinta isso, sente-se cheio e próspero, não importa o que pode ter ido antes. Tal filho poderia adicionar, "eu cuidarei do resto." Esta também é uma bonita experiência. E o filho poderia adicionar, "agora deixo-os em paz." O efeito destas frases é muito profundo. Os filhos têm os seus pais, e os pais têm os seus filhos. São simultaneamente separados e tornam-se independentes. Os pais terminaram o seu trabalho, e os filhos são livres para viver as suas vidas com respeito para com seus pais, sem serem dependentes deles.
Mas sinta o que se passa na alma quando você imagina os filhos a dizerem aos seus pais, "o que vocês me deram, primeiro, não foi a coisa certa, e segundo, não foi o suficiente. Vocês ainda me devem." O que é que os filhos recebem dos seus pais quando sentem desta maneira? Nada. E o que é que os pais recebem dos seus filhos? Também nada. Tais filhos não podem separar-se dos seus pais. Suas acusações e pedidos amarram-nos aos seus pais de modo que, embora estejam limitados a eles, não têm nenhum progenitor. Sentem-se então vazios, necessitados e fracos.
Esta é a segunda Ordem do Amor, que os filhos tomem o que os seus pais lhes dão para além da vida como ela é.
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MEDIDA DO FILHO
Adicionalmente à vida que os pais dão aos seus filhos, e ao que quer que seja que lhes dão enquanto os criam, há também os presentes que os pais dão, do que acumularam com os seus próprios esforços. Por exemplo, uma mãe é uma prendada pintora que pinta os quadros mais maravilhosos. Isto pertence a ela e não aos seus filhos. Se os seus filhos ficarem decepcionados porque não conseguem pintar quadros tão belos - embora não tenham o seu talento e não trabalhassem tão arduamente como ela - eles violam as Ordens do Amor. Não é assim que a vida funciona. O mesmo aplica-se à riqueza material. Os filhos que se sentem herdeiros da riqueza dos seus pais, e ficam decepcionados quando não o são, danificam o amor. Se herdarem a riqueza, então o amor estará bem servido quando a tratam puramente como uma dádiva.
Isto é importante porque se aplica também à culpa pessoal dos nossos pais. A culpa pessoal dos nossos pais pertence-lhes a eles, sozinhos. Acontece frequentemente que os filhos, sem o amor de seus pais, tomam a culpa deles e tentam carregá-la. Mas isto viola as Ordens do Amor. Tais filhos tentam presunçosamente fazer algo que não têm direito nenhum de fazer. Por exemplo, quando os filhos tentam expiar os erros dos pais, colocam-se acima de seus pais e tratam-nos como se os pais fossem crianças de que necessitam de tomar conta, e como se os filhos fossem os pais.
Não há muito tempo havia uma mulher num grupo cujo pai era cego e a mãe surda. Eles compensavam-se um ao outro muito bem. Mas a mulher sentiu que necessitava de cuidar dos pais, e quando nós construímos a sua constelação familiar, o seu representante agiu como se fosse grande e seus pais pequenos. Na constelação, a mãe disse-lhe que, "até que o teu pai queira, eu posso cuidar dele sozinha." E o pai disse-lhe que, "a tua mãe e eu estamos bem sozinhos. Não necessitamos de ti." Mas a mulher ficou mais decepcionada do que aliviada. Foi reduzida ao tamanho de filha, de criança.
Não conseguia dormir nessa noite. De fato, sofria de insonias. No dia seguinte, perguntou-me se eu a poderia ajudar. Eu disse, "as pessoas que não conseguem dormir às vezes acreditam que necessitam de vigiar algo." Então eu contei-lhe uma história de Borchert sobre um menino em Berlim após a guerra. Ele vigiava dia e noite o corpo morto do irmão para que os ratos não o comessem. Embora estivesse completamente esgotado, estava convencido que era obrigado a manter-se de vigia. Um homem caridoso veio ter com ele e disse-lhe, "de noite os ratos dormem." Então o menino caiu adormecido. Nessa noite, a mulher também dormiu.
A terceira Ordem do Amor entre pais e filhos é que respeitamos o que pertence aos nossos pais pessoalmente, e permitimos que façam o que somente eles, podem e devem fazer.
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TOMANDO E DESAFIANDO
A quarta Ordem do Amor entre pais e filhos é que os pais são grandes e os filhos são pequenos. É apropriado que os filhos aceitem e os pais dêem. Porque os filhos recebem tanto, têm necessidade de balançar a conta. Faz-nos sentir incômodo quando aceitamos daqueles que amamos sem poder retribuir. Com os nossos pais nunca podemos corrigir o desequilíbrio porque eles dão sempre mais do que nós podemos retribuir.
Alguns filhos fogem da pressão da reciprocidade, da sensação de obrigação ou de culpa. Então dizem, "eu prefiro não receber nada e sentir-me livre da culpa e obrigação." Tais filhos fecham-se aos seus pais e sentem-se vazios e empobrecidos. O amor seria melhor servido se eles dissessem, "aceito tudo o que me derem com amor." Então poderiam olhar amorosamente para os seus pais, e os pais poderiam ver como os seus filhos eram felizes. Esta é uma maneira de aceitar, que consegue equilibrar, porque os pais sentem reconhecimento por este tipo de aceitação, com amor. E dão ainda de maior boa vontade.
Quando os filhos exigem, "vocês devem dar-me mais", então os corações dos pais fecham-se. Porque os filhos exigem, os pais não podem mais inundá-los voluntariamente de amor. É tudo o que essas exigências conseguem, elas proíbem o fluxo natural do amor. E os filhos exigindo, mesmo quando conseguem algo, não lhe dão valor.
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RECIPROCIDADE
Entre pais e filhos, a reciprocidade em dar e receber é conseguida dando uns aos outros o que recebemos. Isto faz os pais muito felizes quando os filhos dizem, "eu recebo tudo o que me dás, e quando for grande, passá-lo-ei para os meus filhos." Os filhos não olham para trás quando dão desta maneira, eles olham em frente. Foi o que os seus pais fizeram, eles receberam dos próprios pais e deram aos seus filhos. Porque receberam tanto, sentem-se pressionados para dar abundantemente, e podem fazer isso.
É isto o que eu quero dizer sobre as Ordens do Amor entre pais e filhos.
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(Texto Bert Hellinger / Tradução Graça Raimundo)
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